LA CAPELLE > Nota Histórica
LA CAPELLE
ORIGENS
La Capelle é uma cidade francesa que pertence à região administrativa da Picardia, departamento de Aisne. A cidade assenta sobre as ruinas da antiga cidade Gaulesa de Sainte Grimonie, a quem é atribuída a fundação da cidade, no século IV. Grimonie, uma jovem princesa cristã da Irlanda, fugiu do seu país para escapar a um casamento imposto. Refugiou-se no norte da região de Thiérache, onde foi assassinada pelos emissários dos seus pais. No local da sua morte foi construída uma capela. Segundo a lenda, houve milagres, peregrinações e construíram-se casas. E assim nasceu La Capelle. Santa Grimonie é a padroeira da cidade e a igreja tem o seu nome. A festa litúrgica celebra-se a 7 de setembro.
IGREJA PAROQUIAL
A cidade de La Capelle necessitava de um novo local de culto, porque a antiga Igreja, onde o Padre Dehon foi baptizado, estava em risco de ruir. A Câmara de La Capelle liderou o processo e pediu que Charles Garnier, arquiteto da Ópera de Paris e do Théâtre Marigny, desenhasse a nova igreja. Este concebeu um edifício com referências bizantinas e genovesas. Projectada a partir de 1881, foi consagrada em 1887 por D. Thibaudier, bispo de Soissons.
A igreja possui um órgão classificado de 18 registos, construído para a antiga igreja entre 1864 e 1867 e totalmente restaurado em 1998.
A igreja de Santa Grimonie possui três sinos. Foram instalados em 1920 para substituir os antigos sinos, que provinham da antiga igreja e que foram roubados pelos alemães durante a guerra de 1914-1918. O sino maior pesa 850 kg. O sino do meio pesa 650 kg e o mais pequeno pesa 450 kg.
HIPÓDROMO
A ideia da construção do hipódromo de La Capelle nasceu num café de La Capelle a 2 de setembro de 1873. Henri Dehon, irmão do Padre Dehon, fazia parte do grupo que organizou a primeira corrida de cavalos (Site do Hipódromo). A 1 de agosto de 1874, cerca de dez mil pessoas vindas de todo o Norte de França e da Bélgica assistiram às sete corridas previstas para o primeiro encontro oficial que se realizou no hipódromo “experimental” de La Capelle. As “grandes famílias” da região desfilaram em carruagens principescas puxadas por quatro cavalos.
O hipódromo tornou-se rapidamente um importante centro de corridas de cavalos no norte de França. Atualmente, é conhecido internacionalmente pela sua pista de 1609 metros, a única do seu género na Europa. O hipódromo foi remodelado várias vezes ao longo dos anos. As últimas obras, em 2008, transformaram-no num complexo moderno, aberto a uma grande variedade de eventos complementares às corridas, como por exemplo o Grand National du Trot.
GUERRAS
Guerra com Espanha. No século XVI, tendo em conta a sua situação geográfica, Francisco I mandou construir fortificações para proteger La Capelle dos soldados espanhóis, que se encontravam a 16 km de distância, em Avesnes sur Helpe. Em 1557, a cidade foi atacada e incendiada. Uma nova batalha, em 1594, causou graves danos à cidade. Em 1963 deu-se um novo ataque espanhol à cidade, antes de serem definitivamente expulsos. Com a alteração das fronteiras, as fortificações foram destruídas em 1689.
Primeira Guerra Mundial. A 7 de novembro de 1918, a delegação alemã deslocou-se a La Capelle para negociar a paz. Pararam em Haudroy, onde o cabo Pierre Sellier fez soar a clarim do primeiro cessar-fogo. Os alemães são levados para La Capelle para se encontrarem com o Comandante de Bourbon-Busset. O encontro teve lugar na Villa Pasques. Os alemães receberam as instruções e partiram para clareira da floresta de Compiègne. O tratado de armistício foi assinado às 11 horas de 11 de Novembro de 1918 entre os Aliados e a Alemanha, dentro de um vagão-restaurante, na floresta de Compiègne. O objetivo era pôr termo às hostilidades na frente ocidental da Primeira Guerra Mundial. Os principais assinantes foram o Marechal Ferdinand Foch, das forças da Tríplice Entente, e Matias Erzberger, representante alemão. Depois do armistício seguiu-se o Tratado de Paz de Versalhes, celebrado em 1919, pelo qual a Alemanha, derrotada, era obrigada a reduzir as suas tropas para metade, a pagar pesadas indemnizações aos países vencedores, a ceder as suas colónias, e a restituir a Alsácia-Lorena à França.
Em 1925, em Haudroy, foi erigido um monumento para comemorar o cessar-fogo. Destruído pelos alemães em 1940, renasceu em 1948 e foi classificado como monumento histórico em 1997. A escola de la Capelle tem o nome do cabo Pierre Sellier. Atualmente na Villa Pasques funciona um centro de interpretação da Primeira Guerra Mundial.
Segunda Guerra Mundial. Na Segunda Guerra Mundial La Capelle é novamente fustigada pela guerra. Em maio de 1940, as tropas francesas avançaram para La Capelle para tentar bloquear o caminho dos alemães. Após duros combates, La Capelle caiu nas mãos dos alemães. Mais de 180 casas foram destruídas ou incendiadas. O segundo Armistício de Compiègne foi assinado a 22 de julho de 1940 e decretava o fim das hostilidades entre as autoridades do Terceiro Reich e os representantes da República Francesa, no decorrer da Segunda Guerra Mundial. Foi assinado em Rethondes, localidade muito próxima de Compiègne, na chamada “carruagem do armistício”, a mesma onde tinha sido assinado o armistício de 11 de novembro de 1918, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. O Segundo Armistício estabeleceu as condições oficiais da ocupação alemã, na França. A soberania francesa sobre o seu território nacional será readquirida com o desembarque dos Aliados na Normandia, em 1944, pondo fim ao regime colaboracionista do marechal Philippe Pétain. Só em 1945 é que a cidade de La Capelle foi libertada pelos americanos.
ECONOMIA
Em estreita ligação com a criação de cavalos, os primeiros pincéis de pintura foram fabricadas em La Capelle em 1880 pelo Sr. Dumont. Em 1962 a empresa passou a chamar-se France Pinceaux e, com o passar dos anos, tornou-se líder do mercado de pincéis, escovas e vassouras.
Em 1968, o Sr. Flandre e o Sr. Prieur organizaram a primeira Feira do Queijo para animar o dia da padroeira Santa Grimonie. Atualmente é um evento imperdível com grande impacto regional, acolhendo mais de 20.000 visitantes por ano. O famoso queijo Maroilles é aqui celebrado!
Visitar site do Hipódromo
GUISE
OS GUISE
Os Guise foram uma poderosa família ducal católica, que exerceu uma forte influência durante todo o século XVI. Deve-se a esta família a formação da Liga Católica ou Santa Liga. Foi Henrique I de Guise quem a criou em 1576, durante as guerras francesas entre católicos e protestantes. A Liga recebeu o patrocínio do Papa Sisto V, dos Jesuítas, de Catarina dei Médicis, e de Filipe II de Espanha: todos aplicados em banir os protestantes de França ou huguenotes, nome pelo qual eram conhecidos os protestantes franceses da linha calvinista.
O CASTELO DE GUISE
No lugar do castelo medieval, onde ainda resiste a sua torre que remonta ao século XII, foi edificada, por ordem dos Guise, uma das primeiras fortalezas do renascimento. Assediada uma dezena de vezes, esta fortaleza resistiu aos sucessivos combates provenientes de toda a Europa. Pode-se distinguir três fases na construção da praça-forte:
- uma fortaleza em arenito de Ardenne, construída nos finais do século XII;
- englobada, a partir de 1549, numa fortaleza de tijolos, iniciada por Claude de Lorraine, primeiro duque de Guise;
- e consolidada em 1650 por Vauban, adaptando-a aos progressos da artilharia. As fortificações de Claude de Lorraine testemunham a influência italiana: um dispositivo de bastiões em forma de estrela e de orelha, e um conjunto de galerias subterrâneas. Curiosamente, os danos maiores foram causados pelos bombardeamentos franceses em 1917, na tentativa de libertar a cidade da ocupação alemã. O espaço, deteriorado, foi adquirido em 1922 por um empreiteiro, que fez uso de alguns materiais da fortaleza para outras construções. Desde 1963 o espaço tem sido preservado através de um projeto arqueológico.
O FAMILISTÉRIO DE GUISE
“Familistério” foi o nome dado às construções feitas por Jean-Baptiste André Godin, entre 1859 e 1880, para os seus operários e famílias. Godin foi um industrial, fabricante de fogões, que “pregava o progresso social para uma indústria melhor”. Godin inspirou-se no socialismo utópico de Charles Fourier e nas teorias de Saint-Simon. Sustentava que a primeira condição para o progresso era a elevação do nível intelectual e moral das classes mais pobres, sem qualquer referência ao cristianismo. Godin destina os lucros obtidos a obras filantrópicas e a ações emitidas para os trabalhadores. O Padre Dehon avalia deste modo o projeto de Godin:
“Os operários tornam-se aos poucos capitalistas, e toda a fábrica depressa lhes pertencerá e as antigas ações serão todas vencidas. (…) Qual é o capitalista que quererá colocar em risco os seus fundos (…) se não se oferece senão a isca de um dividendo absolutamente insignificante (…). Se os trabalhadores guardam a paz social graças aos lucros que têm, então não é um instituto modelo. Falta aí a vida cristã” (OSC 1-141).
O Familistério, onde foram alojados os operários e as suas famílias, situava-se na proximidade da fábrica. Godin ofereceu aos seus 2.000 operários um conforto inédito para a época: água corrente, casas de banho em cada andar, estruturas sociais e culturais, lojas de cooperativas, lavandaria, biblioteca, teatro, escola, infantário, um jardim, um coreto, uma piscina. O lugar fazia coabitar, sem hierarquia social, as famílias dos trabalhadores e dos quadros dirigentes. No início, este “palácio social” foi organizado em quatro pisos em torno de um pátio central com varandas de grade, para onde se abrem as portas de 500 apartamentos.
Esta vida de gestão autónoma prossegue depois da morte de Godin. Só em 1968 é que a “Associação cooperativa do capital e do trabalho de Godin”, que geria o Familistério, desaparece. Em 1981, a cooperativa é adquirida por alguns investidores, mas só em 2000, é que o “Sindicato misto da cooperativa Godin” é criado, reabilitando os espaços, cujo projeto se prolonga até 2015. O apartamento de Godin, na ala esquerda do primeiro piso do “palácio social”, depois de restaurado, funciona como museu.
Hoje, quase 300 famílias moram no familistério. A fábrica Godin ainda funciona, empregando cerca de 200 pessoas.
O apartamento de Godin, na ala esquerda do primeiro piso do “palácio social”, depois de restaurado, funciona como museu.
Hoje, quase 300 famílias moram no familistério. A fábrica Godin funciona ainda, empregando cerca de 200 pessoas.
O Padre Dehon prefere o modelo de organização da fábrica seguido por Léon Harmel, em Val-des-Bois e é bastante crítico sobre este modelo de organização implementado por Godin. No Catecismo Social comenta deste modo:
“Os trabalhadores podem ajudar-se mutuamente através da cooperação e resistir ao capitalismo. Um exemplo interessante desta cooperação e partilha de benefícios é o Familistério de Guise. No entanto, há alguns aspectos muito deficientes: o seu alojamento em caravançarais favorece a imoralidade; o elemento religioso está absolutamente ausente, e o operário ficaria totalmente desprovido de virtudes cristãs se viessem dias maus para a indústria do ferro explorada em Guise.
Estamos a falar, evidentemente, de cooperativas de produção. No que diz respeito às cooperativas de consumo, não se trata de uma forma particular de organização do trabalho, mas apenas, para os trabalhadores, de um meio de obter a baixo preço os objectos de consumo quotidiano” (Catecismo Social – Inv. 961.00 B72/13).
No Manual Social Cristão o Padre Dehon faz este comentário:
“Não olhem para o Familistério de Guise como uma prova prática do socialismo. Trata-se de uma simples sociedade cooperativa de produção e de consumo; não é um socialismo comunal e muito menos um socialismo de Estado. É uma opção dos trabalhadores: são necessários três anos de formação e a admissão para viver no Familistério é feita por um comité. Há, portanto, uma seleção. Como a indústria de estruturas está a florescer, eles estão muito contentes. É preciso ver qual seria o resultado com uma crise industrial mínima. Quanto à moral, os fundadores, como sabemos, não deram o exemplo” (BX – Manual Social Cristão).
Guise situa-se a meio caminho entre Saint-Quentin e La Capelle.
LIESSE
Conta-se que, na Idade Média, uma cidade próxima de Laon cresceu com o culto a uma imagem de uma Virgem Negra com Jesus de braços abertos para o mundo. O menino e a sua mãe eram proclamados “causa da nossa alegria”. Diz uma lenda que essa estátua foi trazida por três cavaleiros que haviam partido para a Terra Santa, numa cruzada em defesa do túmulo de Cristo. Presos e obrigados pelos muçulmanos a renunciar à sua fé, mantiveram-se firmes. O Sultão usou então uma outra estratégia. Enviou-lhe a própria filha, de nome Ismérie – que significa Laetitia ou Liesse –, para os seduzir, pois era de uma beleza indiscritível. Os cavaleiros, porém, preferiram falar do que unia os homens de diferentes religiões. A jovem para conhecer melhor Jesus, grande profeta na sua religião, e Maria, sua Mãe, pediu uma estátua dos mesmos. Os três cavaleiros receberam-na miraculosamente. Libertados por Isméria, a quem Nossa Senhora também aparecera, os três foram transportados por anjos à sua terra natal.
A basílica de Notre-Dame de Liesse apresenta um estilo gótico flamejante e foi construída em 1134 pelos Cavaleiros das Espadas; depois, reedificada em 1384 e, por fim, ampliada em 1480. A ela acorriam para venerar a imagem da Virgem Negra.
Em 1794, a estátua foi roubada e a basílica foi queimada. Do santuário de Liesse ficaram apenas os muros. A partir de 1802, os habitantes restauraram a capela e os altares e colocaram uma estátua de Nossa Senhora.
O Padre Dehon nutria uma grande devoção por Nossa Senhora de Liesse. Ainda criança, ia em peregrinação a Liesse:
“Gostava do mistério deste lugar de devoção…” (NHV30v).
Já na juventude, antes de deixar La Capelle com destino ao Seminário Santa Clara, em Roma, Leão Dehon foi com os pais a Liesse, a 14 de outubro de 1865, conforme escreve no seu diário:
“Os meus bons pais levaram-me a Nossa Senhora de Liesse e acompanharam-me à estação de St-Erme” (NHV IV, 102-103).
Como capelão em Saint-Quentin empenhou-se, como sabemos, nos congressos sociais e alguns realizaram-se em Liesse. O santuário era um importante centro de peregrinação da diocese de Soissons.
Foi também em Liesse que, em outubro de 1872, o Padre Leão Dehon fez alguns dias de retiro para reflectir sobre a sua opção pela vida consagrada.
“Conservava o desejo ardente da vida religiosa. Temia perder a vida interior na atividade do ministério e das obras” (NHV IX, 135).
Como fundador da Congregação, por diversas vezes fez os seus exercícios espirituais na comunidade do Jesuítas, em Liesse, O santuário de Liesse é indissociável da vida espiritual do Padre Leão Dehon.